segunda-feira, 24 de abril de 2017

AS MARCAS QUE TRAGO EM MIM.


Passei minha adolescência tentando parecer o que eu não era. Minha auto-estima era baixíssima. Eu olhava no espelho e me sentia péssima. Queria, a todo custo, ser amada. Ria de piadas que me machucavam, Fazia todo o possível para agradar a todos, ainda que isso me fizesse mal.

Eu lembro de palavras amargas que me foram direcionadas. Ouvi tantas coisas que me machucaram! Lembro de me sentir mal com minha aparência, de não me sentir suficiente, de me sentir uma filha ruim, uma amiga ruim, uma cristã ruim, uma pessoa ruim, Lembro da sensação de caber em todo canto, mas não se encaixar em lugar nenhum. Em público, sorria quase o tempo todo. Sozinha, por diversas vezes, chorava até pegar no sono.

Um dia, vi na internet algumas pessoas dizendo que havia uma forma de aliviar a dor. No inicio, achei estranho... que tipo de pessoa fazia aquilo? Um tempo depois, enquanto chorava, lembrei daquilo e resolvi testar. Peguei uma gilete e cortei minha pele. O sangue escorreu pelo braço e eu me senti bem. Era como se a dor interna saísse quando eu me machucava externamente. 

Fiz isso algumas vezes antes que alguém percebesse. Embora eu tentasse disfarçar, um dia, alguém viu e quis saber a origem daquelas marcas. Esse alguém se preocupou, chorou. Me encaminhou a um psicólogo. Eu não queria, mas fui, Com o tempo, parei de fazer aquilo. Percebi, depois de algumas conversas e muito choro, que eu não precisava agradar a todos o tempo todo. Percebi que precisava me amar. Precisava cuidar do meu coração.

Algumas marcas continuam em meu braço. Hoje não causam mais dor ou vergonha. Trazem a lembrança: eu venci essa fase ruim!

Sabe "a menina e o violão"? Essa que você talvez admire. Que talvez ache sábia e bem resolvida. Bom, ela já foi adolescente. Ela sabe como é não se sentir compreendido. Insuficiente. Sabe a confusão que esse período traz.

Ainda bem que tive em minha vida alguém que me acolheu, abraçou e ajudou. Ainda bem que não disseram "isso é falta de surra", "isso é falta do que fazer". Ainda bem que viram que eu estava me afogando e me puxaram para cima. Eu já pensei em suicídio. Já me senti inútil e achava que não faria falta. Achei que não era amada.

Felizmente, com amor e empatia, me mostraram o contrário. Hoje eu sou adulta e vejo que há sempre esperança, que há muita coisa bonita na vida e que vale a pena "continuar a nadar."

Você não sabe o que cada pessoa já passou. Você não sabe o que cada pessoa já ouviu. O que é uma tempestade para mim, pode ser um vento fraco para você e vice versa. Se não consegue puxar alguém para cima, não a afunde mais. 

Deixo esse versículo para reflexão:
Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram. (Romanos 12:15).

E a você, que não vê mais saída, que não se sente suficiente, que não quer mais viver, escrevo: eu sei que há dias em que nos sentimos arruinados, mas, por favor, não deixe que isso te faça desistir. Um dia, como eu, você vai ver que é precioso, amado, único.

Isso é para você, onde quer que você esteja.

Escrito por Drica Serra.


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